Graças à sua grande precisão, a terapia de prótons é um tratamento eficaz no tecido a ser irradiado e será ainda mais. Essa é a meta traçada pela equipe do Quirónsalud Proton Therapy Center, que em 26 de dezembro de 2019 tratou o primeiro paciente na Espanha com essa técnica.
1) Qual a diferença entre a terapia de prótons e a radioterapia convencional?
A evolução da radioterapia sempre teve como objetivo aumentar a precisão, personalização e exatidão dos tratamentos. As características físicas dos prótons representam um avanço muito significativo nessa precisão e uma redução muito significativa na irradiação indesejável de órgãos saudáveis adjacentes ao tumor, que é o que acaba por determinar a maioria dos efeitos colaterais e sequelas do tratamento.
2) Para que tipo de tumor o feixe de prótons é mais indicado?
Embora as indicações estejam em fase de evolução, o primeiro grupo de tumores seriam os que se desenvolvem na idade pediátrica, adolescentes e jovens. Os tecidos das crianças são imaturos e em desenvolvimento, o que os torna mais sensíveis aos efeitos adversos da radioterapia, principalmente segundo tumores induzidos pela própria radioterapia, deterioração intelectual e outras alterações neurológicas e hormonais. Essa técnica também seria indicada para tumores da base do crânio, como cordomas e condrossarcomas, tumores adjacentes à coluna e medula espinhal, oculares, tumores avançados de cabeça e pescoço e reirradiação (segundos tratamentos em região anatômica previamente irradiada).
3) Que porcentagem de pacientes são candidatos?
Embora as indicações para terapia com prótons aumentem, estima-se que entre 3 e 5% dos pacientes que necessitam de radioterapia se beneficiarão da terapia com prótons em um futuro próximo.
4) Recentemente foi realizado o Congresso Mundial de Terapia de Prótons (Ptcog), quais avanços você destacaria?
Este ano, para além dos tratamentos de locais já clássicos e de novos protocolos, foram aprofundados aspetos biológicos na programação de tratamentos, biomarcadores, estudos pré-clínicos e o futuro da protonterapia. Por outro lado, e embora ainda em fase de estudo pré-clínico, inicia-se o debate sobre a utilização da terapia FLASH com prótons, técnica que aplicaria todo o tratamento radioterápico em menos de um segundo, e que poderia proteger radiobiologicamente ainda mais tecidos. saudável. De nosso centro nos mantemos informados de qualquer progresso que ocorra a esse respeito.
5) De quantas investigações você participa?
Nosso centro está envolvido em vários projetos que visam explorar os benefícios da terapia de prótons em tumores nos quais ela não é usada rotineiramente. Tumores de esôfago, mama, próstata, fígado primário estão começando a ser tratados em nosso centro para objetivar as vantagens dos prótons. Da mesma forma, estamos avaliando a possibilidade de alguns tumores receberem um tratamento mais curto do que o padrão com o consequente conforto para o paciente que muitas vezes tem que se deslocar de seu local de residência para receber tratamento.
6) Em 2023 o congresso mundial será realizado em Madrid. O que significa para a oncologia espanhola de radiação?
Posiciona a Espanha no campo da terapia de prótons em todo o mundo e nos inclui no seleto grupo de países líderes em Oncologia de Radiação.
7) Seu centro foi o primeiro na Espanha a utilizar esta técnica. Que equilíbrio você pode fazer?
Nos quase três anos de atividade do centro, e tendo em conta que em grande parte têm coincidido com a covid, o balanço não podia ser mais positivo. Já tratamos mais de 300 pacientes, a maioria de grande complexidade técnica. Provavelmente esses casos não poderiam ter sido concluídos com a confiabilidade desejável com os tratamentos radioterápicos mais comuns. De referir que 50% dos nossos doentes eram crianças e 30% menores de cinco ou seis anos, circunstância que requer sedação durante todo o tratamento, o que contribui para a sua complexidade.
8) Quantos hospitais no mundo possuem essa tecnologia? E na Europa?
Já são mais de 100 instalações em todo o mundo. Destes, cerca de 30 estão na Europa.
9) E na Espanha?
Existem dois centros operacionais. Há algum tempo, contribuímos para a formação de especialistas que deverão se encarregar dessas novas instalações, tanto físicas quanto médicas. Acreditamos que a abertura de mais centros na Espanha representa uma grande oportunidade para que, através de uma colaboração coordenada de todos os centros, públicos e privados, nos tornemos líderes mundiais na geração de conhecimento sobre esta técnica de radioterapia.
10) Olhando para o futuro, que outros usos essa técnica terá?
O que é previsível é que demonstre seu benefício em um tipo de tumor crescente. Tumores de esôfago, pulmões, fígado, urologia, ginecologia… serão incorporados às indicações de tratamento com prótons no futuro.