“A dor aguda causa ansiedade, mas a dor crônica acaba em depressão”

Publicidad

Os números são contundentes, pois estima-se que uma em cada cinco pessoas em nosso país sofra de dor crônica, doença que impacta a qualidade de vida de 11% dos que a padecem. Apesar disso, em Espanha não existe uma especialidade de dor regulamentada, pelo que os médicos que a ela se dedicam levantam a voz perante esta tarefa pendente.

Qual é o perfil dos espanhóis que sofrem com dores crônicas?

Normalmente encontramos mais mulheres do que homens e a maioria delas está na quinta década de vida, embora a verdade seja que vemos pessoas cada vez mais jovens.

Publicidad

E que problemas de saúde costumam apresentar?

A patologia por excelência que mais encontramos na nossa unidade de dor é a lombalgia, com ou sem cirurgia prévia da coluna vertebral. Além disso, também aparecem outras doenças como dores no ombro, problemas nos joelhos, osteoartrite, dores no pescoço…

Até que ponto essa dor crônica pode ser incapacitante e reduzir a qualidade de vida?

É muito incapacitante e, portanto, decisivo quando se fala em boa qualidade de vida. Encontramo-nos com pessoas que reconhecem a dor crónica, ou seja, que passou de sintoma a doença, pelo que é muito incapacitante desde o momento em que chega às nossas mãos. Não se pode esquecer que, quando alguém acessa a unidade de dor, passa, em média, dois anos com o problema, de um especialista para outro. Vemos pacientes que reconhecem uma grande redução em sua qualidade de vida porque não conseguem dormir normalmente ou realizar atividades diárias. Tudo isso afeta a funcionalidade da pessoa e seu estado de espírito.

Que impacto tem na saúde mental?

Publicidad

Seria necessário diferenciar a dor aguda da crônica, pois a primeira causa ansiedade e medo, enquanto a segunda desencadeia a depressão, pois limita a expectativa de vida a longo prazo.

Como a dor crônica é avaliada clinicamente?

A avaliação da dor é algo muito complexo, pois até agora era dada prioridade a uma escala numérica que pode ser subjetiva, mas atualmente o que se faz é uma abordagem mais holística que leva em conta que a dor afeta a qualidade de vida da pessoa como um todo. como um todo, à sua funcionalidade, ao estado emocional e ao sono. A análise desses quatro parâmetros nos permite ver o paciente com dor crônica globalmente e estabelecer suas limitações.

Uma vez que o paciente chega naquela unidade, qual é a abordagem?

Procuramos fazer uma abordagem multidisciplinar. Nas unidades de dor mais tradicionais, escolhem-se principalmente medicamentos e técnicas interventivas, mas sabemos que o tratamento integral é essencial para todos os problemas colaterais que a dor acarreta. Por isso é importante que haja profissionais de diversas áreas, como nutricionistas, reabilitadores, psicólogos, médicos que vêm do ramo da anestesia…

Três em cada dez pacientes com dor não respondem às terapias farmacológicas. O que você faz nesses casos?

Sim, é assim. Quando isso acontece, entramos em cena para realizar um tratamento intervencionista da dor que não é alcançado por outro tipo de profissional.

Quais são as técnicas de intervenção mais comuns?

Publicidad

A evolução usual da escada de dor intervencionista é composta por bloqueio, radiofrequência e, finalmente, estimulação e infusão.

Que progresso eles têm?

Muitas pesquisas estão sendo feitas no campo da neuromodulação. Têm surgido novos sistemas com notáveis ​​melhorias na programação e na tipologia dos sistemas, como verificamos na semana passada no IX Curso Prático de Ensino de Cadáver de Intervencionismo na Dor.

Que novidades você destacaria?

O novo sistema de neuroestimulação ECAP (Evoked Compound Action Potential), que permite, pela primeira vez, registrar a atividade neural controlada. Até agora, estabelecemos a intensidade da estimulação sem saber a real necessidade do paciente, apenas com base no conforto. Este sistema inteligente mede exatamente o que o paciente necessita e favorece que a atividade neural seja perfeita para cada caso. Também foi divulgado um novo eletrodo para estimulação occipital com âncoras especiais para evitar a migração do dispositivo.

Esses cursos são essenciais?

Sem dúvida, porque a dor enquanto tal não é uma especialidade médica e, por isso, não existe formação regulamentada. Apesar de 20% dos espanhóis sofrerem de dores crônicas, a única forma que temos de nos treinar é através de cursos desse tipo em cadáveres.

Que desafios eles têm?

O maior desafio é ser considerada uma especialidade. Seria o primeiro passo para conseguir uma formação global e homogénea que nos permitisse estar ao mais alto nível como noutros países.

También te puede interesar...

Articulos populares...