“Confirmamos a relação entre fibromialgia e olho seco”

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1. Eles lançaram um estudo clínico com pacientes com fibromialgia e olho seco. O que eles estão tentando encontrar?

Carlos Vergés: Os olhos são um órgão alvo na fibromialgia (FM) e geralmente se manifesta na forma de olho seco neuropático, ou seja, são pacientes com sintomas de olho seco, mas no exame ocular não encontramos os sinais característicos de esta doença. Isso porque a origem do desconforto (sensação de areia ou mesmo ardência nos olhos ao piscar) não está nas lesões da córnea e da conjuntiva e sim no acometimento das fibras nervosas da córnea, que conhecemos como finas fibra e que também são encontrados no resto do corpo. O comprometimento dessas fibras, tanto no olho quanto em todo o organismo, é a causa das dores dos pacientes com fibromialgia. Poder estudar essas fibras é essencial para o diagnóstico e tratamento, o problema é que para isso é necessário realizar exames complexos e invasivos, como biópsias de pele, entre outros. O que oferecemos é a possibilidade de estudá-los, seu estado de envolvimento, através de um teste que não é doloroso e não causa desconforto aos pacientes, a microscopia confocal, que permite ver as fibras da córnea e extrapolar os resultados para o resto do corpo. .

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2. Quais são as características deste trabalho?

CV: É um estudo observacional prospectivo que iniciamos em junho de 2021, em conjunto com os departamentos de Oftalmologia e Reumatologia do Hospital Universitário Dexeus. Recrutamos 60 indivíduos, dos quais 40 têm FM e 20 não (grupo controle). A ideia é concluir o estudo até o final deste ano de 2022. O objetivo é o que indicamos: estabelecer um padrão de biomarcadores para melhorar os critérios diagnósticos da fibromialgia e auxiliar no seu correto tratamento.

3. Que tipo de testes você faz?

CV: Além dos testes clínicos para estabelecer o diagnóstico de fibromialgia e olho seco neuropático, realizamos estudo de microscopia confocal da córnea, interferometria óptica do filme lacrimal e análise genética para determinar a mutação C677T do gene MTHFR e o presença do polimorfismo V158M COMT.

4. Qual a relação entre fibromialgia e olho seco?

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Mª José González: A incidência de olho seco é de 67%. O trabalho visa estabelecer a presença de alterações da fibra fina da córnea em pacientes com FM que apresentam olho seco sintomático. As fibras da córnea são desse tipo, e se apresentarem alterações, aceita-se que isso aconteceria no resto do corpo e seria responsável por muitos dos sintomas presentes na FM, como hiperalgesia, alodinia, desregulação térmica , por exemplo. , membranas mucosas secas, prisão de ventre ou disfunção sexual.

5. Por que ocorre essa relação entre as duas patologias?

MJG: Um dos mecanismos envolvidos na fisiopatologia da FM é a sensibilização central. Na neuropatia de fibras finas há diminuição da densidade das fibras e suas alterações morfológicas. Essas alterações seriam as responsáveis ​​pelos sintomas presentes, devido a alterações no processamento nociceptivo central das fibras centrais. Tendo em vista que na FM há uma hiperexcitabilidade do nociceptor da fibra C, semelhante à neuropatia de pequenas fibras, se pudermos estabelecer a presença de alterações em pacientes com FM isso significaria um avanço na explicação fisiopatológica da doença.

6. O que significaria confirmar esta relação?

MJG: Permitiria usar a microscopia confocal como técnica diagnóstica e explicar de forma objetiva parte dos sintomas causados ​​pela doença. A biópsia de pele é comumente usada para detectar essa patologia, enquanto a microscopia confocal é uma técnica não invasiva e reprodutível que permite a avaliação qualitativa e quantitativa de fibras finas e facilitaria o diagnóstico de fibromialgia.

7. Quais foram os resultados preliminares?

CV: Esses resultados permitiram corroborar a relação entre fibromialgia e envolvimento das fibras nervosas da córnea por microscopia confocal, com alta porcentagem de sintomas de olho seco. Em nossa primeira série de pacientes, 80% apresentavam alterações nas fibras da córnea, em 40% eram graves, 50% moderadas e 10% leves.

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8. Esses resultados serviriam para um tratamento mais específico?

MJG: Este grupo de pacientes responderia melhor a drogas de ação central.

CV: A nível oftalmológico sim. A identificação desse tipo de olho seco modifica totalmente o protocolo de tratamento desses pacientes, sendo necessário partir para estratégias baseadas na melhora das fibras nervosas por meio de radiofrequência ou, atualmente, luz pulsada de alta intensidade (IPL).

9. E o diagnóstico?

MJG: A confirmação dessa relação possibilitaria o uso da microscopia confocal como uma técnica diagnóstica objetiva na fibromialgia.

CV: Para o oftalmologista é fundamental estudar o estado das fibras nervosas para estabelecer o diagnóstico de olho seco neuropático e ver sua relação com a presença de doenças sistêmicas como a fibromialgia.

10. Existe algum outro trabalho nesta linha?

MJG: Existem vários grupos de trabalho que estudam a relação entre fibra fina e fibromialgia, comparando-a com uma população saudável, mas não com FM e envolvimento de olho seco. Também podemos antecipar que este estudo continuará com a investigação de perfis genéticos relacionados à inflamação a partir de amostras coletadas em lágrimas nas quais determinaremos a superexpressão genética usando a técnica da transcriptase de mRNA.

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